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Como contar a história de Jardim São Paulo?

 

Uma das mais importantes lições a serem aprendidas conhecendo-se um pouco mais sobre história é justamente a ideia de que tudo e todos possuem história. Os grandes eventos experimentados pela humanidade, as civilizações do passado, os fatos presentes que nos deixam impactados são históricos, mas aquilo que se passa imediatamente em nossos cotidianos e em nossas vidas também são. Então se podemos conhecer a história do grande e poderoso Império Romano, também podemos conhecer a história de nosso bairro e se reis, generais triunfantes em batalhas e políticos poderosos são personalidades históricas, nossos vizinhos também podem ser no contexto de nossa história comunitária.

 

O levantamento dessa história local, do conhecimento sobre o passado e desenvolvimento do bairro foi o projeto central da atuação do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) do curso de história da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) na EREM Professor Trajano de Mendonça em 2015. A ideia era justamente possibilitar a estudantes da escola a atuação em uma pesquisa histórica com a finalidade de levantar elementos a respeito da história do bairro, tendo estes estudantes a oportunidade de conhecerem de forma mais apropriada métodos e processos para a pesquisa e análise de fontes.

 

A memória guardada de Jardim São Paulo precisou ser abordada como um serviço à comunidade, como uma chance de revelar para a população local a sua trajetória vinculada ao espaço que reconhecem como seu bairro. Buscas documentais e testemunhais foram importantes para essa experiência de abordagem da memória do bairro realizada com e para os estudantes da escola, sendo uma experiência que, conforme ensinou o historiador austríaco Erich Gombrich em sua obra “Uma pequena história do mundo” (que é uma graciosa abordagem da história para crianças): “É com ela [a memória] que nós iluminamos o passado. Primeiro, o nosso próprio passado e depois pedimos a pessoas mais velhas para contarem aquilo de que elas se lembram. Em seguida, tentamos encontrar cartas escritas por pessoas que já morreram. Dessa maneira iluminamos o nosso caminho para trás”[1].

 

Na tentativa de iluminar o caminho percorrido pela comunidade de Jardim São Paulo cumprimos parte desse passeio pela memória andando em conjunto com a equipe do PIBID-História da UFPE, com estudantes da escola que encararam a jornada e com apoiadores, incentivadores e testemunhas que compartilharam suas lembranças para tentar oferecer cada vez mais luz sobre a história local.

 

As testemunhas inicialmente ouvidas foram dois antigos e conhecidos moradores do bairro, apontados por muitos como conhecedores da história local e apaixonados por Jardim São Paulo.

 

Diogo Galdino da Silva, o Seu Diogo, nascido em 1925, é natural de Nazaré da Mata e desde 1947 se fixou em Jardim São Paulo para exercer a profissão de barbeiro, tendo conhecido muitas pessoas e testemunhado muitas histórias dessa localidade. Ele tem orgulho do bairro que acolheu e onde foi acolhido e até recebeu uma simbólica homenagem que a lei só permite a quem não é mais vivo: O seu nome identifica o beco ao lado de sua antiga barbearia, tendo até placa indicativa. Sua intimidade com as ruas de Jardim São Paulo fez dele uma referência para todos que precisassem chegar a um destino. Seu Diogo tem orgulho em dizer que tudo o que tem e tudo o que construiu deve à Jardim São Paulo.

 

Almir Ferreira da Cruz, o Seu Almir, olindense nascido em 1939, também chegou em Jardim São Paulo em 1947 quando ainda menino. Cuidadoso com os registros do passado que testemunhou e também participou, gosta de guardar documentos e fotos, além de achar empolgante compartilhar as histórias com quem quer ouvir e aprender. É uma referência viva para quem busca informações sobre o passado de Jardim São Paulo, tem fama merecida de historiador do bairro e declarou em entrevista: “Eu gosto de contar a história do bairro justamente para que o povo participe dela”.

 

Com referências e informações apontadas a partir dos depoimentos dos entrevistados, além de outras referências documentais e impressas, a equipe do PIBID-História/UFPE procurou levantar inicialmente para a própria comunidade local elementos para que a história de Jardim São Paulo pudesse ser inicialmente conhecida. Vamos tratar em seguida um pouco sobre essa história.

 

 

 

[1] GOMBRICH, E. H. Uma pequena história do mundo. Lisboa: Tinta da China Edições, 2013. p. 26.

Seu Diogo, 90 anos, veio para Jardim São Paulo em 1947

Seu Almir, 76 anos, morador de Jardim São Paulo desde 1947

Os registros em áudio, vídeo e transcrição das entrevistas fazem parte do acervo do Laboratório de História Oral e da Imagem (LAHOI) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

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