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Um personagem marcante: Gregório Bezerra

 

O pacato bairro de Jardim São Paulo recebeu ainda na década de 1950 um morador que teve fama de “agitador”.Tratava-se do líder comunista original do município de Panelas que já chegava ao bairro carregando uma incrível trajetória política na bagagem, tendo sido participante de movimentos operários desde 1917, quando foi preso pela primeira vez por conta de sua atuação política ainda aos 17 anos de idade. Depois de sua primeira experiência com a repressão, Gregório ingressou no Exército e chegou a ser sargento, aprimorou sua formação e virou instrutor após formar-se na Escola de Educação Física do Exército, mas não deixou de lado sua disposição pelas transformações sociais nas quais acreditava e participou ativamente da Revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas à Presidência da República.

 

Sua militância como integrante do Partido Comunista Brasileiro (PCB) resultou na condição de vigilância sobre sua atuação por parte da corporação, mas, mesmo assim, ele continuou dedicando-se às causas defendidas por sua ideologia e atuou como militante comunista fortalecendo o partido, a mobilização de pessoas e ação pela revolução. Por sua participação num levante comunista em 1935, Gregório foi preso mais uma vez e condenado a 27 anos de prisão, tendo sido anistiado em 1945, quando voltou ao partido acabou eleito deputado federal. Foi cassado em 1948 quando o PCB foi declarado ilegal, voltou a ser preso sob acusações que não foram provadas e por isso novamente foi libertado.

 

Em 1957 teve nova prisão, sendo pouco tempo depois solto, mas essa rotina de prisões não encerrou por aí, pois com a deflagração da Ditadura Militar em 1 de abril de 1964 voltou a ser detido em um episódio de extrema violência realizada em público, quando foi arrastado por ruas do Centro do Recife sob tortura até chegar no local de detenção provisória. Condenado a 19 anos de prisão, acabou saindo do cativeiro em 1969 após ser trocado pelo embaixador dos EUA como exigência do grupo militante que o sequestrou representante da maior potência mundial como forma de reação ao regime autoritário.

 

Gregório passou a viver exilado em Cuba e na União Soviética, mas em 1979 voltou para o Brasil por ocasião da edição da Lei da Anistia, que possibilitou o “perdão” aos perseguidos – e também aos perseguidores – da ditadura. Morreu em São Paulo em 23 de outubro de 1983.

 

A vida de Gregório Bezerra em Jardim São Paulo contrastava com essa agitação de sua experiência política. Era morador da atual Rua Methódio Maranhão e, mesmo sendo figura vigiada e perseguida pelas autoridades públicas, era um vizinho tido como cordial e pacífico. Era o tipo que distribuía doces para crianças, cumprimentava e conversava com as pessoas nas ruas e que era respeitado por praticamente todo mundo – e muitos nem sequer sabiam de sua atuação ou sua fama. Seu Almir o chamava de “avô” e o toma como exemplo de brasileiro que “lutou para ver um país igual e não desigual”. A casa de Gregório estava sempre cheia, pois muita gente aparecia por lá e ele recebia a todos, inclusive alimentava a quem dizia ter fome. Seu Almir lembra que o vizinho ilustre também propagava seus ideais entre a comunidade e até fez comício na lagoa. Seu Diogo também tem boas lembranças de Gregório Bezerra, que era seu cliente na barbearia e, assim como Seu Almir, o tem como exemplo de político e guarda um exemplar com dedicatória do livro do vizinho. Seu Diogo lembra que Gregório tinha um cargo na prefeitura do Recife quando comandada por Miguel Arraes (entre 1960 e 1962) e que costumava pegar carona de jipe com ele quando ia para o Centro do Recife. É também forte a lembrança de que Gregório o procurou para se barbear antes de ser preso e logo após retornar do exílio, tendo dito ao chegar na barbearia: “Cheguei, faça a barba aqui!”.

 

Seu Diogo conta que foi perguntado sobre Gregório quando agentes do governo o procuraram e ao ser questionado se era amigo do líder comunista respondeu: “Sou. Ele é meu cliente, cliente é meu amigo!”.

 

Já houve proposta de nomear a referencial praça central do bairro em homenagem a Gregório Bezerra, mas o projeto de lei não foi aprovado na Câmara de Vereadores do Recife. Para muitos moradores de Jardim São Paulo Gregório é um desconhecido.

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