Aprimoramento da vida comunitária na década de 1950
Ainda antes de completar uma década de fundação do loteamento realizado pela SOTERCOL e diante da contínua ampliação populacional e ocupação do espaço, outras causas passaram a mobilizar os interesses e as ações dos moradores de Jardim São Paulo. Uma das mais urgentes delas foi assegurar os melhores cuidados espirituais para os moradores e para isso a edificação de uma igreja que abrigasse a paróquia local era determinante. Desde o início da fixação de moradores no loteamento já eram realizadas missas, primeiramente na casa grande do engenho e depois tomou relevo a demanda por um local mais acessível para os residentes das ruas criadas pela SOTERCOL, das vilas Presidente Dutra, Carmela Dutra e também da Vila dos Ferroviários (nas imediações da Estação Werneck) e de outras áreas como dos arrabaldes do Taquary (outra extensão que foi parte do Engenho São Paulo da Várzea que foi loteada ainda na década de 1930 e que não fazia parte do projeto que tomou forma na década seguinte, mas que foi “incorporada” ao futuro bairro de Jardim São Paulo na década de 1950).
A comunidade já contava com o Núcleo Espírita Manuel Arão, instalado no número 550 da Avenida São Paulo, mas a população católica local estava desprovida de uma sede paroquial própria e era assistida pelas paróquias de Santa Luzia (na Estância) e do Barro. Seu Almir referencia o Padre Maciel, da Paróquia de Santa Luzia, como o primeiro celebrante costumeiro, que comparecia ao loteamento após a realização da missa em sua igreja regular, ou seja, apenas após as 22:00h dirigia a celebração aos moradores de Jardim São Paulo. Outros sacerdotes compareciam voluntariamente atendendo a solicitações dos fiéis locais e num terreno próximo à lagoa fora inicialmente montada uma estrutura improvisada sob uma tenda de lona para a realização das missas e posteriormente uma capela feita de madeira doada por uma empresa de importação de veículos foi construída por membros da comunidade no mesmo lugar.
A precariedade inspirou a organização dos moradores em torno do propósito de edificar um templo de alvenaria e uma comissão foi constituída para arrecadar fundos e mobilizar esforços e cooperação. Tendo como óbvia escolha a consagração de uma capela para São Paulo, a comissão presidida pelo padre Rodolfo Moreira, pároco do Barro, foi constituída em setembro de 1951 e teve como destaque reconhecido a atuação da senhora Maria de Lourdes Barros Medeiros, que era formalmente a vice-presidente do coletivo de moradores engajados na causa. Seu Diogo confirma não apenas a disposição como a liderança de Dona Lourdes no estímulo à doação de material e de dinheiro para realização das obras para a construção da capela. Seu Almir confessa que o ânimo era tanto que muita gente até fez doações questionáveis, pois passaram a subtrair material de outras obras do bairro para levar para o terreno que a SOTERCOL doou para a igreja. Em 27 de janeiro de 1952 tiveram início as obras através do ato de lançamento da pedra fundamental da futura igreja, ocasião na qual o pároco da Estância - o padre Gilberto Carneiro Leão - realizou missa na Igreja de Santa Luzia, procedeu a bênção da imagem de São Paulo e de lá liderou a procissão até o local da construção no bairro vizinho, onde o monsenhor José Leal, capitular da Arquidiocese de Olinda e Recife, presidiu os ritos finais antecedendo uma animada festa na comunidade. As mobilizações em torno da construção acabaram chegando até o Legislativo Municipal, quando em 26 de maio de 1952 o vereador Andrade Lima Filho apresentou um projeto que possibilitava a oferta de um financiamento de Cr$ 50.000 por parte dos cofres públicos para a construção da igreja. A capela projetada pelo engenheiro Arnaldo Viegas Lima (homenageado com nome de rua no bairro de Areias) foi finalmente concluída no final de 1952 com festa, mas a atuação pela ampliação para atender à crescente demanda dos fiéis foi contínua e o templo contou com obras de reformas posteriores.
Assim como os espíritos de Jardim São Paulo necessitavam de templos, as jovens mentes necessitavam de escolas, mas faltavam escolas na comunidade apesar da numerosa população nos idos da década de 1950. Seu Almir conta que precisou recorrer aos estudos em outro bairro pela ausência de alternativas perto de casa e mesmo que o projeto da Vila Presidente Dutra previsse a criação de uma escola, somente em 16 de agosto de 1957 o bairro recebeu sua primeira unidade pública estadual por meio da inauguração do Grupo Escolar Professor Trajano de Mendonça, que homenageava o renomado e respeitado professor de matemática do Ginásio Pernambucano. Por ocasião da inauguração da escola estiveram presentes o governador Cordeiro de Farias e o secretário de educação Aderbal Jurema, que discursaram realçando os feitos que o governo estava realizando pelo ensino público e pontuando a importância de fundar escolas em comunidades como Jardim São Paulo.
Mais necessidade passaram a surgir com a ampliação populacional reforçada pela criação de novas áreas residenciais a exemplo da Vila Henrique LaRoque em 1955. O novo assentamento urbano inicialmente atendia a uma população ligada à categoria dos comerciários e esta característica fez surgir o intuito de ir em busca do próprio patrono da vila para obter apoio para as demandas da população local e por foça de uma mobilização dos moradores foi enviado o sr. José Gomes de Araújo para o Rio de Janeiro em busca de uma audiência com Henrique LaRoque , que fora ex-presidente do Instituto dos Comerciários e que exercia na ocasião mandato como deputado federal pelo estado do Maranhão – infelizmente não conseguimos informações sobre os resultados dessa expedição.
O futebol era um dos prazeres da comunidade, mas o time local nem sempre agradava (nota do Diario de Pernambuco de 18 de dezembro de 1951).
Cinema perto de casa
(Diario de Pernambuco de 29 de julho de 1953).